Reportagem de Jornal O Dias
Artigo de Marco Aurélio Dias, filósofo, espírita e educador
Como Encontrar a Cara Metade
Aprendemos conceitos que são tão martelados em nossa educação. Ficam arraigados no subconsciente. Sempre ouvi dizer que homem e mulher são duas metades de uma mesma laranja. São tampa e panela. A laranja inteira seria o casal. Acho que vem daí a expressão "encontrar a minha cara metade". O indivíduo sozinho seria metade de gente. Como a natureza não produz meia laranja, então é preciso que duas metades se unam para formar uma laranja inteira. Esta é uma explicação folclórica, religiosa e simbólica. Demonstraria porque homem e mulher se atraem. Porém a pessoa que busca uma relação com a fantasia de encontrar a alma gêmea não está suficientemente madura para conviver. Ela nunca vai encontrar a metade de si mesma no outro. É o mito da costela de Adão. Duas metades de laranja podem fazer uma boa laranjada, mas duas meias pessoas não fazem um casal. Mas sabemos que a mulher é uma laranja inteira. O homem é outra laranja. Um não é metade do outro. Homem e mulher são duas laranjas independentes. Além disso, duas metades de uma laranja não formariam um casal heterossexual, mas homossexual. Logo, não seriam homem e mulher. São apenas divagações. Além disso, para ser bem radical, as pessoas são gente e não laranjas. Não podemos esperar a "perfeição" no companheiro. Ninguém é a nossa metade. Existem muitos preconceitos na cultura humana. Quando eu era criança ouvi alguém comentando que minha tia Laura era uma "figueira maldita". Soou em meus ouvidos como algo criminoso, imperdoável. Aquilo ficou na minha cabeça por muitos anos. Até que, já adolescente, descobri que a mulher que não teve filhos era discriminada com a expressão "figueira maldita". Puro preconceito. É o mesmo que ridicularizar alguém chamando-o de gordo, negro ou gay. Ao longo da minha infância ouvi várias vezes alguma mulher ser chamada raivosamente de "figueira maldita". As pessoas são inteiras, completas, imperfeitas, de difícil convivência a dois. Porém não gostam de ser sozinhas. Por isso procuram uma companhia para amar e ser amadas. A questão do "perfeito" fez um rombo na educação de todas as gerações. E continua fazendo. É necessário tirar a ideia de "perfeição" dos assuntos humanos. "Perfeição" é uma fantasia, um folclore, um conto da carochinha. A relação não tem que ser perfeita e nem imperfeita. Tem simplesmente que ser e ter amor.
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