Por Marco Aurélio Dias - Na India antiga, Sidarta Gautama Buda pregou o desapego. E Sri Krishna aconselhou ao discípulo Bahrata matar o pai e a mãe, numa linguagem figurada que significava romper os laços de apego com o pai, a mãe e a família. Jesus Cristo demonstrou muito desapego quando respondeu assim a um recado: quem é meu pai e quem é minha mãe?, sendo que a própria mãe o procurava. E agora que vemos a sociedade desapegada do afeto e dos relacionamentos, cada qual buscando felicidade na vida pessoal e em si mesmo, ficamos desconcertados e amedrontados, achando que pode ser um desvio de conduta social. Os filhos estão desapegados dos pais e dos irmãos, por conta da necessidade de ficarem focados no mundo virtual. As pessoas estão desapegadas umas das outras, desapegadas das amizades e procurando ficar sozinhas. Sri Patanjali, codificador da yoga, ensinou que devemos viver solitários e não aceitar presentes, porque na troca de presentes e amizade criamos carma-paixão que nos acorrenta e impede que sigamos adiante na evolução espiritual. A tecnologia está criando esse tipo de conduta social. As festas estão acabando, os presentes diminuindo e as pessoas ficam sozinhas, sem amizades reais, e aí se projetam na internet, vivendo virtualmente. O corpo fica parado diante do computador e a pessoa passa os dias ali imaginando e sentindo. Estamos cada vez mais virtuais. Antigamente, no Tibete, alguns monges eram trancados em celas e ficavam meditando até conseguirem se desprender do corpo e viajar no astral conscientemente. Hoje, o plano astral é como se fosse o mundo virtual da internet. Os quartos onde as pessoas se trancam para navegar solitariamente são semelhantes aos cubículos onde aqueles monges se trancavam para fugir do mundo real. Aparentemente, é escassez de amor. Mas as pessoas estão se amando e se relacionando no plano virtual. No Dhammapada, livro de Buda, está escrito que todos os estados encontram sua origem na mente e são criações da mente, inclusive a vida virtual, dizemos nós. A internet criou um virtualismo muito parecido com o que os espiritualistas chamaram de plano astral.
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