Morei em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, conheci uma senhora que residia numa casinha pequena e de aspecto pobre. Ela plantava e vendia verduras. Um dia fui até comprar alface e cenoura. Por acaso começamos a conversar sobre pintura de quadros. Ela então me contou que quando era mais nova, bem mais nova, trabalhou algum tempo para o pintor Di Cavalcante (1897-1976). Ele pintava umas plaquinhas como modelo e ela saia com aquele catálogo para conseguir encomendas de quadros. Ela oferecia para conhecidos, visitava escritórios, etc. Chegou a pegar várias encomendas. Volta e meia Di Cavalcante passava para ela novas plaquinhas com outros estilos. Empregou-se depois numa casa de família, trabalhando como doméstica, e parou de sair para pegar encomendas. Dezenas de plaquinhas de pintura do Edi Cavalcante ficaram com ela e nem lembrava mais que fim tiveram. Provavelmente foram para o lixo. Ela me contou essa história mais ou menos em 1985. Se naquela época ele ainda tivesse as tais plaquinhas com as pinturas de Di Cavalcante, certamente teria arrumado um bom dinheiro e mudado o rumo de sua vida.
Quando Celso Matoso me disse que, na infância, ganhou vários quadros de Guignard e que sua mãe não deixou que ficasse com as obras do mestre, lembrei-me do caso dessa senhora de Campo Grande que teve em sua posse pequenas e certamente raras pinturas de Di Cavalcante.
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