O
tipo étnico brasileiro caracterizado como mestiço fica melhor definido como cultura do que como um perfil biológico. O Saci Pererê
é o arquétipo cultural do mestiço. , o tipo brasileiro, a semente
do sincretismo cultural, a alavanca da miscigenação. Ele tem a
força de um arquétipo racial e é o símbolo do Brasil mestiço.
Originariamente, o Saci é um ente lendário da cultura tupi-guarani.
Um menino ameríndio de uma perna só. Tinha como função defender a
natureza. Era uma espécie de guarda florestal. As escravas (aias),
grandes contadoras de histórias, transformaram o Saci indígena em
Saci negro. Neste caso, o alinhamento foi fácil. Tudo aconteceu na
época da escravidão. Os negros fugiam das senzalas e iam se
refugiar nos quilombos dentro das florestas. Assim como o Saci armava
ciladas para os índios que destruíssem desnecessariamente as
árvores, os arbustos, as florestas, etc., do mesmo modo os negros
armavam ciladas para os portugueses que iam até lá, armados,
tentando recapturá-los e levá-los de volta para o trabalho forçado.
Então a reconfiguração do símbolo foi praticamente automática.
Foi só tirar uma perna do escravo e dar cor negra ao Saci. Estava
pronta a lenda do Saci que Monteiro Lobato ouviu das escravas. Estava
reconfigurado, no imaginário coletivo daquela sociedade
escravocrata, o arquétipo racial ou cultural como elemento
representativo do tipo étnico brasileiro.
Jornal O DIAS
Reportagem de Jornal O Dias
Artigo de Marco Aurélio Dias, filósofo, espírita e educador
O Saci na luta dos quilombos