Fazemos coisas que fogem da lógica cotidiana e não tem muita explicação, a não ser nos sentimentos e impulsos mais enraizados na psique. Eu me considero uma dessas pessoas que podemos caracterizar como idealistas por conta própria. Cometi cada absurdo cultural! Sinto-me profundamente desafiado quando penso nas ações que fiz movido pelo meu idealismo. O ímpeto do idealismo é muito interessante! Bem no início da década de 70, comprei uma máquina de escrever. Na época, o pedagogo e educador Lauro de Oliveira Lima era, no Rio de Janeiro, um homem que fazia a política da educação. Não sei por qual razão achei que a pedagogia seria o caminho que eu deveria tomar na vida. Pois bem. Peguei minha máquina de escrever e elaborei um ensaio sobre educação. Nem lembro quais os tipos de argumentos que escrevi. Levei vários dias trabalhando no meu método de educação. Eu morava em Jacarepaguá, na Praça Seca. Peguei meu texto, coloquei-o dentro de um envelope e fui até a Gávea, se bem me lembro. Eu tinha uma entrevista marcada nada mais e nada menos do que com o famoso educador Lauro de Oliveira Lima. Na minha cabeça de adolescente, o Lauro tinha uma proporção enorme, também por ser vigiado pela ditadura. Um tipo de herói social! Confesso que nem sabia das atividades internacionais do educador com com as pesquisas avançadas da epistemologia genética de Jean Piaget. Mas é interessante como uma pessoa imbuída de sonhos atinge seus objetivos. Consegui a entrevista. Ele estava me esperando. Entrei no Centro Experimental e Educacional Jean Piaget, que mantinha a Escola A Chave do Tamanho. A instituição foi idealizada e realizada pela educadora Maria Elisabeth Santos de Oliveira Lima, esposa do Professor, e sua família. Lauro de Oliveira Lima me recebeu num local reservado onde pudemos conversar. Expliquei os motivos que me levaram a pedir aquela entrevista. Solicitei que lesse meu trabalho e me desse uma opinião ou uma orientação. Era um ensaio sobre educação. Ele falou que achava muito importante que eu estivesse pensando em educação, porque a educação precisa ser pensada. Dialogamos pelo menos uns quinze minutos sobre a educação no Brasil. Foram talvez os quinze minutos mais famosos da minha vida e fui tratado respeitosamente como um jovem pensador. Deixei meu trabalho com ele e fiquei de voltar em outra data para sentarmos e conversarmos. Foi assim que combinamos. Ele pediu um tempo. Eu não tinha nenhum envolvimento com educação! E não sei de onde eu tirei a ideia de que poderia escrever um ensaio sobre a educação e o melhor aproveitamento dos educandos no processo da aprendizagem. Recordo pouca coisa do meu diálogo com o Professor Lauro de Oliveira. Para mim, foi muita emoção. Mas, enfim, aconteceu... Jean Piaget disse que o objetivo da educação é motivar as pessoas a fazerem coisas diferentes das condicionadas. Sinto-me então um pouco justificado na minha boa intenção. Aquela foi uma ação pessoal completamente fora dos meus condicionamentos cotidianos.
Jornal O DIAS
Reportagem de Jornal O Dias
Artigo de Marco Aurélio Dias, filósofo, espírita e educador
Lauro de Oliveira Lima, Piaget e a Educação