"A falta de informação é como um mundo sem a luz elétrica para iluminar a noite escura. Quando eu era adolescente e ouvi falar pela primeira vez sobre a literatura de cordel fiquei muito impressionado. Criei uma tal admiração pelo "escritor Cordel", que imediatamente procurei saber tudo sobre ele. Queria ler. Foi um evento inusitado. Ali inaugurei em minha vida a ânsia de ler, o desejo de saber, a vontade de pesquisar. Mais ainda, eu queria conhecer e obter a literatura de "Cordel". Imaginei que "Cordel" fosse um grande escritor brasileiro, tipo José de Alencar, Machado de Assis, Gonçalves Dias ou Monteiro Lobato. Como era muito limitado o acesso a qualquer tipo de informação, eu perguntava aos conhecidos quem tinha sido "Cordel", quais os livros que ele havia escrito, pois era muito famosa a sua literatura. Nem sabia que a literatura de cordel era como um folclore cultural e literário dos nordestinos. Alguns adultos me diziam que nunca tinham ouvido falar sobre a literatura de cordel. Outros me falavam que ainda não tinham lido nada de "Cordel". Hoje eu sei que aquelas pessoas não haviam lido nada de nenhum escritor, muito menos de "Cordel". Parece incrível, mas ninguém que eu conhecia sabia me informar qualquer coisa sobre a literatura de Cordel e nem quem tinha sido Cordel. Muitos anos se passaram até eu descobrir que literatura de cordel são poesias que os autores imprimem em folhetos e penduram em barbantes (cordel) nas feiras nordestinas para vender ao público interessado. Estávamos na década de 60. Muita obscuridade... O curso de datilografia era importantíssimo para quem procurava emprego. Lembro que a tal literatura de "Cordel" ficou em minha cabeça por muito tempo, porém eu não conseguia arrancar uma única informação das pessoas que conhecia. Mundo limitado e sem informação. As pessoas não sabiam e nem estavam interessadas em saber quem tinha sido o tal do "Cordel". Época de pouca cultura e de mentes fechadas. A ditadura comia solta no Brasil. Os camburões preto e branco da invernada metiam medo por onde passavam. As pessoas viviam um conto de fadas... A vida era preta e branca como os camburões da ditadura militar. A escuridão cegava. Não sabiam nada! Não existia esse mundo de informações infinitas que a internet hoje oferece gratuitamente. Cito este fato porque ele marcou uma fase importante da minha vida. Foi a primeira vez que senti vontade de ler. Eu próprio estava procurando a leitura... Estava interessado em saber como era a "literatura de Cordel". Além disso, fiquei obstinado por conhecer a vida e as obras desse grande "escritor Cordel" construído em minha mente. Quando, mais tarde, descobri que o tal do "Cordel" não era uma pessoa, concomitantemente aprendi que os adultos ao meu redor sabiam também muito pouco sobre o Brasil".

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