Carl Gustav Jung foi um psicanalista suíço e Monteiro Lobato, precursor da literatura infantil no Brasil, foi um escritor polêmico. O que eles têm em comum? A busca da criança interior.
Houve uma época em que Jung andou muito depressivo e procurou referência de identidade na própria infância. Foi um longo período. Ele escreveu: "Os anos em que estive possuído por minhas imagens profundas, foram os mais importantes de minha vida - neles tudo de essencial foi decidido." Jung sentava em algum lugar e ficava pensativo, sem entusiasmo, sem rumo, chegando a apresentar um quadro de transtorno mental. Para fazer frente ao tumulto interior, começou a brincar com pedras à margem do lago de sua casa em Küsnacht, exatamente como fazia quando era criança. Ele disse que se sentiu convidado pela criança interna para realizar essa atividade. Construía casinhas com as pedras e chegou a montar uma cidade em miniatura. Manteve essa atividade pelo resto de sua vida. Quando passo no Campo de Santana, Rio de Janeiro, olho várias pessoas sentadas nos bancos. Algumas podem estar apenas descansando do almoço ou esperando um horário marcado, porém a maioria está feito Carl Jung, talvez pensando assim: afinal o que é a minha vida e o que eu fiz dela? Todos nós temos esses momentos de crise e de insatisfação com os resultados pessoais que produzimos. Naquela época, Jung lembrou dos tempos de criança, de si mesmo e das brincadeiras que fazia montando construções. Nas horas vagas, passou a sair para escolher e catar as pedrinhas, depois ficava montando suas construções.
Mas ele conta que aquela busca da criança interior foi muito importante para crescer psiquicamente, mudar, retomar a maturidade com mais consciência e manter um equilíbrio psicológico. A solução que ele encontrou foi resgatar a identidade da criança e mantê-la por perto. Exercitava-se na pintura e nas construções com pedrinhas. Monteiro Lobato enfrentou várias crises, sempre que falia em algum empreendimento, e também usou o recurso psicológico de Carl Jung: voltou-se para a criança interior. Só resolveu seu problema de criatividade quando abraçou as lembranças da infância e se dedicou aos contos infantis, onde aparece identificado como Pedrinho, ao lado de Emília e Visconde de Sabugosa. Ele deixou frases como esta: "De escrever para marmanjos já estou enjoado. Bichos sem graça. Mas para crianças um livro é todo um mundo". São vários os casos de grandes nomes da ciência e da arte que buscaram na criança interior o refúgio da tensão exterior. Monteiro Lobato, depois de várias tentativas na literatura, sempre falindo nos negócios, desesperançado e derrotado, buscou a criança interna e começou escrever com a jovialidade de um menino, mais como exercício e ocupação. Lembrava das brincadeiras de criança em Taubaté, dos amiguinhos, e bordava aquelas aventuras com lendas brasileiras e ingredientes da história. O resultado foi uma obra literária incrível, alegre, profunda e que brotou de um folguedo com sua criança interna.
Reportagem de Jornal O Dias
Artigo de Marco Aurélio Dias, filósofo, espírita e educador
O que Carl Jung e Monteiro Lobato têm em comum?