Durante uma fase de minha vida, logo depois de completar 24 anos, experimentei uma necessidade muito intensa de me afastar do convívio social. Sentia-me estranho e fora da roda da vida. Não conseguia me encaixar. Sentia necessidade de entender alguma coisa a mais. Alguma coisa mal resolvida em minha mente criava um bloqueio que deixava a sociedade de fora das minhas prioridades. Eu estava perdido no passado e na ideologia transcendental. Eu queria apenas o Nirvana. Não me interessava por trabalho e nem por dinheiro. O mundo social também não se encaixava na minha vida. Então procurei refúgio no alto de uma montanha em Vargem Grande, no Rio de Janeiro, onde passei longos 3 meses incomunicável. Existia no local um sítio onde uma senhora idosa morava com seu filho adotivo, também já avançado em idade. Essa senhora era uma antiga rezadeira conhecida na região inteira por suas curas e rezas. Aquela família cedeu-me um cômodo separado da casa que era denominado a "casa do santo". Outrora naquele cômodo as pessoas costumavam se reunir para fazer orações. Não sei se passei por uma depressão, mas, de certa forma, eu estava feliz. Ao lado da casa tinha um abacateiro muito grande e, à noite, várias corujas ficavam nos galhos piando. Eu costumava deitar e dormir logo após o por-do-sol e me levantava por volta da meia noite. O lugar era ermo, com muitas cachoeiras. Na beira da casa onde eu fiquei passava um riacho que descia a serra vindo do Pico da Pedra Branca. Havia sempre um inebriante perfume de lírios do vale. A lua cheia era fenomenal, clareava como dia os caminhos por onde eu costumava andar pela madrugada toda. Durante aqueles 3 meses minha vida foi completamente pensada e repensada. Estive envolvido com os acontecimentos do meu passado desde a primeira memória de mim mesmo junto à minha família. Vivi, literalmente, a vida de um monge. Saí daquele retiro espiritual com vontade de me encaixar na sociedade, porém de forma tímida ainda. Eu me considero uma pessoa marcada pela ideia de renúncia. Experimentava, na época, um receio de me apegar muito ao mundo porque sabia que ele me abandonaria.
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