Dediquei alguns anos da minha vida construindo um atelier de pintura na cidade de São Lourenço, MG, Brasil, utilizando a imaginação criativa e alguns recursos naturais. Numa longa tentativa de entender o que se passava comigo, comparei esse meu trabalho a uma terapia de encontro com a criança interiorizada. Na década de 70, abandonei a agitação da cidade do Rio de Janeiro e me estabeleci na estância hidro climática de São Lourenço, na Serra da Mantiqueira, onde passei a rever as prioridades da vida. Foi muito significativa a análise que fiz da existência: se uma pessoa perder tudo o que tem de bens materiais e lhe sobrar o sopro da vida, na verdade ela não perdeu nada, porque a maior experiência do ser humano é justamente o testemunho visual de que a vida existe não só na própria pessoa, mas em tudo o que a rodeia. Testemunhar a atividade da vida em tudo o que nos rodeia, e não só em nós, é revolucionário e nenhuma experiência pode ser mais significativa do que essa. Em 1980, tomei a decisão de colocar em prática a experiência da unidade da vida e entendi que meu relacionamento com a natureza é mais importante do que qualquer outra proposta de vida. O objetivo da vida não é ser bem sucedido financeiramente e ficar rico de bens materiais, como tentam entender e enfiar na cabeça das crianças, e nem é ter muita cultura dessas que os autores inventam. É preciso ler a natureza, ter cultura própria da vida que nos rodeiam. Nada é mais estafante do que encher a cabeça com as coisas que os outros escrevem. Uma ave cantando na árvore é um texto muito rico e é preciso aprender a lê-lo. É preciso ser um filósofo natural e observar com amor e alegria a vida que pulsa no universo. Isso, mais que um objetivo da existência humana, é o sentido da unidade da vida natural. As desgraças da sociedade nascem em parte pela concepção de que a vida é separada em pedaços e que cada um tem um pedacinho da vida. As pessoas se veem separadas das outras e vivem a ilusão de querer ser mais, de possuir mais, de ter tudo para si. Acham que esse pedacinho de vida que pulsa no corpo lhes pertence e querem vivê-lo com ganância e egoísmo. A vida, no entanto, é uma unidade biológica e psíquica que pulsa em todos os seres e em todo o espaço. Nenhum problema e nenhuma paixão pode estar acima da observação da unidade da vida. É necessário ser leitor da vida para entender o universo e ficar em paz.
Jornal O DIAS
Reportagem de Jornal O Dias
Artigo de Marco Aurélio Dias, filósofo, espírita e educador
Buscando a Unidade da Vida