Tudo que vemos e experimentamos no dia a dia do nosso convívio social abre em nossa psique links de situações vividas anteriormente. Esses links se transformam em acontecimento interno associado a sensações de conforto ou desconforto. Substituímos as impressões sensoriais externas por sensações psicológicas guardadas na psique. Dessa forma, nosso banco de dados psíquico é frequentemente acessado e provoca diversas reações de comportamento e humor, muitas vezes contraditórias. Alguém chama Paulo na rua e ele corre desesperado imaginando que se trata de um assalto. Ele corre por causa da imaginação e não pelo fato de o terem chamado. Neste caso, o que denominamos como imaginação é a substituição da realidade externa por uma experiência anterior que foi acessada. A imaginação pode ser mais decisiva para a reação da pessoa do que a realidade externa. A velocidade da experiência anterior acionada na psique foi tão grande que Paulo nem se virou para ver quem o chamava. Provavelmente ele está vivendo um estado de tensão que o deixa apreensivo e com vários links de alerta acionados. Paulo entrou em um bar onde estavam várias pessoas e se sentiu seguro. Sentou-se e pediu um copo de água. Acalmou-se. Logo a seguir um outro vendedor de sapatos da empresa onde trabalha entrou no mesmo bar e o cumprimentou, falou que o chamou na rua e que ele saiu correndo. Não era um assalto, era um amigo. A realidade externa era diferente da realidade interna. Paulo simplesmente interpretou a realidade externa a partir de argumentos psíquicos e teve uma reação condicionada. Ele não retornou com uma observação da realidade. A observação do evento é que dá o equilíbrio das ações. A pessoa ansiosa constantemente subtrai a observação ou a verificação. Ela age e reage subtraindo a crítica e a observação. Talvez possamos estimular a imaginação a responder com dados positivos através de uma educação dirigida para esse fim. Podemos supor que Paulo tem poucos links em seu banco de dados associados a eventos positivos. Se sempre foi chamado para ser repreendido, para apanhar, para ser humilhado, etc., desde criança, então ele tem poucas referências positivas internas associadas a alguém o chamando para vivenciar algo bom. Sempre que o chamarem na rua, portanto, os links de alerta para fugir do desconforto serão acionados. Se colocássemos Paulo para participar de várias experiências nas quais ele fosse chamado para eventos positivos e confortáveis talvez pudéssemos enriquecer seu banco de dados com informações positivas associadas a alguém o chamando. Então ele sairia desse quadro de tensão no qual subtrai a observação e mantém acionados os links de alerta para fugir do desconforto. Se Paulo se virasse para observar a situação teria percebido que um amigo o chamava e não sairia correndo pelas ruas.
Jornal O DIAS
Reportagem de Jornal O Dias
Artigo de Marco Aurélio Dias, filósofo, espírita e educador
A Substituição da Realidade