O mito do eterno talvez seja um mal necessário. Uma mulher não vai se casar com um homem se souber que ele tem prazo definido em sua vida, pois ela precisa imaginar que ele ficará para sempre, não só por três ou quatro anos. Mas o "para sempre" é um mito. A vida não é uma linha contínua, ela acontece por etapas que começam, se transformam ou terminam. A vida é feita de grandes e pequenos eventos: um amor que mal começa e logo termina (ou dura dez anos); uma empresa que vende muito e vê seu capital diminuir; uma flor que nasce no jardim e murcha; uma ave que pousa na janela, se assusta e vai embora; um filho que nasce, cresce e segue seu rumo. Precisamos ter uma observação atenta para saber quando algum desses eventos está terminando. É aí que devemos ter maturidade suficiente para colocar a mochila nas costas e sair daquela situação. Claro que falar é mais fácil do que fazer. Principalmente quando o evento irrompe como uma onda bravia e se joga contra as pedras. Mas todo mundo já observou que os eventos de todos os tipos vem e vão em nossa vida, muitas vezes nós é que não aceitamos acompanhar esses eventos. Na verdade, eles não somem na estrada, interiorizam, e passam a produzir efeitos internos. Os trabalhos vem e vão, as pessoas também. Temos na psique o mito do eterno e o acionamos toda vez que vamos começar algo bom e novo em nossa vida. Se é bom, queremos que seja para sempre. Porém é só uma impressão! O novo vira rotina e perde o brilho aos poucos. O fato é que não aceitamos as mudanças, porque estamos impregnados pelo mito do eterno. Não somos educados para entender que todo fenômeno é um processo de vir a ser e está sempre em busca de mudanças e adaptações mais favoráveis. O educador Lauro de Oliveira Lima foi excessivamente pragmático tentando mostrar que a pessoa nunca está formada e acabada. No entanto, queremos que as pessoas sejam eternamente o mesmo modelo, como se fossem seres acabados e estáticos. E Piaget propôs uma educação que acelere o vir a ser da pessoa, onde ela própria seria agente dessas mudanças, descondicionando-se continuamente do que foi anteriormente. Se atualizo meus pensamentos e conceitos, deixo de ser o que fui e desarmo em minha mente o mito do eterno. As pessoas que entram em nossa vida vem de mudanças radicais. Se tivessem ficado estagnadas onde estavam não teriam entrado em contato conosco. E vão continuar mudando. A vida se propaga por ondas de acontecimentos: algo começa, termina e dá impulso a outras cenas da vida. Podem ser eventos muito longos ou curtos, como as ondas do mar: algumas são grandes, outras pequenas. Porém, as vezes, ao fim de cada evento pode calhar de ter um precipício maior. É onde precisamos reunir todas forças para dar um salto olímpico. Diria até que precisamos de um impulso divino, tamanha a largueza do precipício. Nessas horas conta muito o autodomínio e a inspiração para o lado certo. Depois, é fechar os olhos, pular e rezar para não cair dentro do abismo. Pronto! Dessa vez o salto deu certo. Estamos sãos e salvos na outra margem da estrada. É só continuar e esperar os novos acontecimentos que vão surgir.
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