A raiz da decepção está na prática de sustentar mentiras sociais para se ajustar a modelos de aceitação. Educamos nossos filhos para que pensem exatamente da mesma forma que as outras pessoas pensam, para se parecerem com elas e serem aceitos pela sociedade. Não somos educados para desenvolvermos uma nova forma de ser e pensar, mas para copiar o padrão e imitá-lo. Não julgo se é certo ou errado. Mas apenas observo que os arquétipos sociais nos subjugam. Talvez este comportamento seja o mais fácil para a sobrevivência. Viver numa organização social é mais fácil quando todos pensam e se comportam da mesma maneira. Esta é a razão pela qual convivemos bem com todas as fantasias da cabeça humana. Duvidar, por exemplo, da existência de Deus ou da eficácia das tradições, impõe imediatamente um medo de ser castigado, que é o temor de ser reprovado socialmente e não se encaixar bem no grupo, prejudicando a sobrevivência. Neste caso, não é Deus o juiz, é a sociedade. Quem castiga também é a sociedade, não é Deus. Quase tudo o que falamos sobre Deus, estamos mesmo falando é da sociedade. Quem te julga não é Deus, mas o teu semelhante, teu pai, tua mãe, teus irmãos, teu patrão e teus amigos. Tememos a excomunhão social. Então veneramos nossos fetiches, nossas tradições e povoamos nosso interior com as mais diferentes mentiras e crenças tradicionais que herdamos dos neandertais e sobrevivem em nosso interior na forma de arquétipos que decidem por nós o modelo de existência que devemos seguir. Ser livre e se livrar dessas fantasias é aceitar o nada como principal referência cognitiva e fazer reflexões sem estar sugestionado. A única pessoa que se aproxima de alguma originalidade é a que se esvaziou de todas as crenças. Os seguidores de religiões e doutrinas políticas não podem ser livres e autônomos, pois temem seus dogmas, temem pensar por si mesmos, temem pensar diferente, temem fugir dos padrões e temem ser punidos com o castigo da excomunhão social.
Jornal O DIAS
Reportagem de Jornal O Dias
Artigo de Marco Aurélio Dias, filósofo, espírita e educador
A Raiz da Fantasia