Ninguém nasce para si mesmo. Nasce para os outros. A criança nasce para a família e não para si mesma. Ela carregará pelo resto da vida tudo aquilo que a família lhe ensinar. A família se apossa da criança, entra, por assim dizer, dentro dela e passa a viver ali, implementando seus conceitos e preconceitos. Uma família começa a se estruturar a partir do momento em que se organiza para receber uma criança. A família nasce para a criança e a criança nasce para a família. Tudo se estrutura a partir da utilidade. Viver para si mesmo é uma decepção. O estado de depressão aguda, seja qual for a causa, é uma maneira egoísta de viver para si mesmo, é uma doença, é um negar-se a ser comunidade, é uma radicalidade na individualidade, é um extremismo de si mesmo, e pode causar a morte. A pessoa não existe fora da comunidade. Só me entendo e me articulo enquanto possuo a identidade cultural caracterizada pela personalidade social e pela atividade econômica da minha comunidade. Não temos a finalidade de existir para pensar e especular nossa existência. Existimos para sermos pensados e especulados pelos outros. O que pensam sobre mim pode ser uma realidade da expressão do que sou para a comunidade. A pessoa sempre pensa o melhor sobre si mesma e quase sempre faz uma avaliação exagerada de seus atributos positivos. Todo criminoso se acha justo. Vamos analisar o seguinte: se ninguém pensa em mim e nem espera nada de mim, suponho que não existo, e, neste caso, não basta apenas eu pensar para deduzir que existo, como propõe a fórmula do racionalismo cartesiano. O modo mais cabal de alguém comprovar para si mesmo que existe, é ser procurado e solicitado pelas pessoas da comunidade onde vive. Só me entendo completamente, quando passo a entender as prioridades da minha comunidade e quando vivo intensamente essas prioridades como se fossem minhas próprias, e, de fato, o são. Nada é mais pessoal do que a comunidade. Antes de exigir soluções da comunidade para os meus problemas, tenho que cooperar (como ente de utilidade) nas soluções dos problemas sociais da comunidade. Só somos legitimamente éticos quando nos beneficiamos das conquistas sociais na mesma medida em que lutamos para conquistá-las. A existência social se justifica na utilidade social do indivíduo. Quanto mais sou útil, mais existo. Posso provar que existo quando sou procurado para alguma prestação de serviço. A consciência da existência se amplia com a prática da utilidade social.
Jornal O DIAS
Reportagem de Jornal O Dias
Artigo de Marco Aurélio Dias, filósofo, espírita e educador
Filosofia da Utilidade Existencial